sexta-feira, março 06, 2009

nômade

Dias atrás estava vendo T.V., passava um filme, um com aquelas histórias de adolescentes com problemas familiares e historias de amor. O que me chamou atenção nesse filme? A personagem principal tinha um blog, chamava-se “Diário de uma Nômade”. Bom, ela vivia mudando de cidade. E de acordo com as definições, ser nômade resumisse a isso: falta de residência fixa, mudança constantemente de lugar.
 

Identifiquei-me com ela, apesar de não ter uma mãe solteira em busca de um grande amor e que muda de cidade a cada decepção, ultimamente ando me sentindo uma nômade. Por quê?
 

No momento estou em um hotel, um desses que existem em quase todas as cidades de médio a grande porte. Minhas sextas-feiras se resumem, portando, a horas em um quarto de alguns metros quadrados, com a T.V. ligada, computador conectado na internet e dois travesseiros. Isso depois de 353 km percorridos, dois pedágios pagos e uma pequena fortuna em combustível. E o jantar? Sozinha em um shopping com poucas opções de comida.
 

Os sábados eu passo no campus da universidade, uma ai, na qual faço pós-graduação em um assunto que, até o momento, não sei exatamente sobre o que se trata. Mas, dizem que vou me dar bem sabendo sobre o assunto. 
Bom, vou passar meus próximos 46 sábados tentando descobrir.
 

Depois das oito horas de aula mais uma cidade. Ando mais alguns bons quilômetros, pago mais um pedágio e fico de favor na casa de uma amiga. Essa é a parte divertida, são poucos metros quadrados e a cidade muito quente, mas compensa pelas boas conversas.
 

Ah, o domingo. Dia da preguiça, de ir ao clube, almoçar em família, assistir um programa idiota na T.V. e rir de vídeos velhos com pessoas se dando mal e arranjando muitos hematomas. Não, meu domingo não é assim. Ele se resume a 380 km percorridos, três pedágios pagos, ar condicionado e mais uma fortuna em combustível. Após quatro horas ouvindo um CD dos Los Hermanos, cuja sequência de música já decorei, chego enfim, a cidade que, no momento, é a principal e nada melhor do que desfazer as malas.
 

Mas, nem sempre a mala permanece vazia por muito tempo apenas três ou quatro dias, na melhor das hipóteses. Viagem a São Paulo para fazer compania para o pai. Viagem para Londrina para pedir ou buscar documentação. Viagem para São Carlos, toda semana, todo fim de semana. Viagem para Ribeirão, quem sabe uma viagem para Uberlândia, já sinto saudade dos avôs de lá. Talvez pegar o carro e ir até Assis para ir ao médico, cabeleireiro ou dentista.
Minha casa é um carro, minhas coisas não ficam mais em armários, minhas malas estão gastas, o dinheiro está sendo gasto.
 

E se alguém me chama para uma viagem, eu digo que o feriado será em casa, parada, sem rodas, sem malas, estática na sala, sentindo as dores da falta da rotina, das horas sentadas, do incômodo da movimentação excessiva.
 

Planejo meus dias parados, meus dias em casa, as viagens são, hoje, minha rotina. Falta vontade, forças para planejar as viagens de férias, as viagens de feriado. A novidade é estarem todos na mesma cidade, na mesma casa. E por poucos dias ter as roupas no guarda roupa, dormir na mesma cama, ter as refeições na mesa de cozinha e o cachorro latindo no quintal. Enfim, falta a sensação de lar. De um, único, doce lar.

Um comentário:

Ricardo Miranda disse...

Cara Ana Carolina,
Fiquei duplamente impressionado com este seu post.
Primeiro, porque rolou uma identificação tal que, se eu copiasse seu texto, aproveitaria quase tudo para descrever minha própria rotina de fins de semana.
Depois, porque, sinceramente, eu mesmo não poderia ter descrito melhor!!
(Saudações nômades)