segunda-feira, julho 14, 2008

desejos

É duro quando percebe-se que já não lhe resta muita coisa. E não me refiro ao tempo, a enegia, tão pouco a saúde. Sinto falta das brincadeiras de bilisquinhos na soleira da porta da cozinha, mesmo me baseando apenas numa velha fotografia. Sinto falta de um silêncio pela manhã e também de muitas palavras que hoje já não me tocam suavemente os timpanos. Sinto falta do carinho, da ingenuidade, das boas viagens a praia e da velha filmadora. Sinto mais falta dos sorrisos, hoje eles me doem a face. Lembro das histórias, da atenção e dos grandes momentos que duravam pequenas porções de segundos. Das florezinhas pela manhã, dos bilhetinhos feitos com a pontinha das folhas da apostila. Mensagens de celular e briguinhas ao telefone, e abraços apertados nos reencontros. Caronas em bicicletas, perfumes, papos nos degraus da varanda da frente. 
Tinha tanto tempo e pensava "não tem importância, ainda tenho tempo". Tenho tempo, mas não aquele e esse de agora é friu e indiferente. Indeferente ao que sinto, ao que me magoa, ao que quero. O que eu tenho de sobra hoje? Saudades e um turbilhão de sons dentro de mim que me enlouquecem. E eu odeio essa palavra: saudade, no momento, é claro. Porque não quero ter saudades das boas conversas com uma grande amiga, eu quero conversar com minha amiga. Eu não quero ter que aguentar gritos, quero poder gritar com toda inocência de uma criança e ser ouvida e respeitada. Eu quero um abraço forte de quem me admire e queira compartilhar algo importante comigo. Quero falar ao invés de sufocar meus pensamentos com medo de que não sejam corretamente entendidos. Cansei de desejar ter paciência para esperar.

Mas tudo isso são só desejos. Desejos que cansei de desejar.

quinta-feira, junho 12, 2008

a lá Paula Toller

Hoje, perco-me em pensamentos, lembranças e músicas; revivo momentos: os dias de brigas que resultavam em socos em muros e armários e os dias de estralar as costas. Dias de provocações com sapatos arrancados e blusas de ombro caído e os momentos em finais de festas que me envolviam. Dias de telefonemas que viravam discussões. Conversas que irritavam por sempre revelarem as outras em sua vida e os dias comuns de conversas no portão. Dias de roupas inadequadas e vastas horas sentindo o cheiro gostoso de erva doce. Dias de saudades e dias regados de horas em que ouvia o doce barulho que entrava pela janela. Dias de música alta sempre pulando a faixa cinco do CD e abraços apertados...E para dias de desesperos e brigas, uma voz suave cantando baixinho ao pé do meu ouvido, voz que camuflava gritos, brigas e verdades.

segunda-feira, maio 26, 2008

nem exageros, nem extremos

Não gosto de exageros e nem de extremos. Muitos podem me considerar uma pessoa sem personalidade e até fraca. Pois bem, não sou. Pelo menos julgo assim. Não sei por que é tão importante gostar disso e não daquilo, desgostar daquilo e não disso; achar aquela pessoa certa ou aquela outra errada. E esse “achismo” todo é sempre lei. Irrevogável. Posso ouvir samba e gostar de rock. Posso amar livros de ficção e ler livros infantis (são tão coloridos). Posso gostar de carne vermelha, mas escolher uma salada com um frango grelhado. Enfim, posso infinitas coisas, coisas das mais diversas e coisinhas das mais banais. Só não posso achar que extremos são bons. Nem os meios-termos o são. Mas será que não existe um lugar entre os extremos e os meios onde eu possa viver. Apenas viver e descobrir coisas, colorir e descolorir mundos. Um dia, alguém me disse que minhas opiniões poderiam mudar, para eu não julgar tanto. Não foi nenhum gênio que me disse isso e muitas vezes, vejo que até esse alguém julga demasiado. Ninguém pode ser completamente alheio a julgamentos, seria também um exagero, um extremismo. Mas não entendo. E é difícil viver entre dois extremos tentando não ser meio-termo e continuar colorindo e descolorindo meu mundo. Eu tenho pré-conceitos, mais não vivo para eles, às vezes até os esqueço e mudo-os. Por exemplo, não concordo com o roubo, mas acredito que existam roubos honestos, se é que posso chamar assim, quer dizer, posso. Meus poucos roubos são honestos. Acredito em um Deus, um que está em mim e para mim, um que se confundi comigo, porque ele é parte de mim. Não confio nas religiões, mas admiro e não condeno quem dela precise, se ela existe é para ser usufruída. Só desconfio dos homens, daqueles que falam por um Deus. As palavras podem ser traiçoeiras, dizer o que queremos ouvir e ludibriar nossos pensamentos.

Gosto de gostar de coisas diferentes, de pessoas diferentes, mundos diferentes e de cores diferentes. E poder escolher hoje o branco, amanhã o preto e, porque não, querer um dia cinza para nada fazer. Minha mente está cansada de tanto buscar por coisinhas. Se hoje arrisco palavras sem sentidos em pedaços amassados de papéis usados, se leio mergulhando num mar de palavras incompreensíveis e saborosas, se me permito ouvir um chorinho ou Oswaldo Montenegro em minhas viagens diárias, se hoje me encontro e vivo meus eternos momentos em lugares pouco iluminados e “convencionais” e me delicio simplesmente por estar numa rua com o céu em azul tão claro e envolvente, se hoje - não ontem e nem amanhã - posso colorir meu mundo com diversas tonalidades, cheiros e sabores, é porque decidi não pelos extremos e exageros, e sim pela imensa alegria de me encontrar em mundos tão diferentes, podendo saboreá-los, senti-los e vive-los, decidindo pelo meu modo de colorir. Nem tão branco, nem tão negro, mas infinitamente colorido. Às vezes em tão mais claros e infantis, outras vezes em tons fortes, riscados com paixão.

quarta-feira, maio 07, 2008

dores

Com o corpo dolorido e com os pés gelados estou deitada sobre duas cobertas, rodeada de travesseiros e um livro. Mas ainda sobra espaço na minha pequena cama de meu apertado quarto. O sono ainda não chegou. Mas a moleza do corpo sim. Minha mente ainda em um trabalho cíclico, não deixa meu sono chegar.

O livro que ainda está aberto na página da dedicatória me envolve com a esperança que eu decifre suas palavras. A dor em todos meus músculos continua a acelerar meus pensamentos e a movimentar meus dedos, que marcam um pedaço de papel com palavras sem sentido. Meus olhos voltam-se novamente para o livro, mas logo fogem dele. Melhor tê-lo só como apoio para minhas palavras sem sentido. A historia é sempre a mesma.

O sono ainda me chama, mas não é atendido pelos meus pensamentos. E agora o estômago já clama por comida. Não, só amanhã, meus músculos doem e as cobertas estão pesadas demais.

E o livro já lido, que nesta noite serve-me apenas como apoio e não ajuda como de costume, a trazer o sono, eu afasto e as dores dos meus músculos aumentam. Estou pesada.

Como personagem da minha própria vida não me encontro em grandes ou pequenas grandes histórias com finais felizes. Encaixo-me melhor em uma trilogia daquelas que não tem fim. Como personagem principal, não sou nada. Como figurante, observo o que tanto me falta para terminar histórias.

As dores dos músculos de meu corpo teimam em lembrar-me do descanso necessário. Meus pensamentos acelerados, dos compromissos pela manhã. E algo desconhecido que me habita lembra-me que palavras são somente palavras, e que se precisa de silêncio para compreender silêncios, senão esses se tornam delírios. E fim.

sexta-feira, abril 25, 2008

sono

Às 07h58min os olhos despertam, mas não se abrem, ainda resta muita maquiagem e o cansaço, início da ressaca. Apesar dos olhos ainda fechados a mente lembra dos compromissos. E a dor no braço direito, reflexo de uma noite bem dormida, incomoda. E é um incômodo bom, uma dor gostosa. Mas ainda é preciso levantar. O cheiro da fuma dos cigarros e da cerveja são mais um reforço para acordar. Pronto. Acordei. Mas enquanto vou até o banheiro e me esforço para abrir os olhos, evitando lembrar do meu estômago e tentando não tropeçar no cachorro, só penso no porque eu não continuei deitada. Não gosto de fazer as coisas com o tempo contado, mas não consigo não me organizar. Falta-me desorganização. Para muitos, isso é uma qualidade, para mim, um problema. E ainda com o corpo dormente me disponho a cumprir meus afazeres do período da manhã.

Às 11h30min um telefonema enquanto tentava inutilmente desviar de buracos, trocar a marcha e adivinhar as próximas barbeiragens de um motorista qualquer, me faz mudar os planos do período da tarde. Um almoço entre amigas. Três mulheres famintas e cheias de histórias para relatar umas as outras, conclusão: duas horas de almoço. E não esquecer de mencionar a Coca-Cola, um copo com gelo. Outro com limão, não! com gelo também. E outro “normal”, por favor.

Às 14h e alguns minutos decido não fazer nada. Sim. Fiquei deitada esperando o sono voltar, e ele voltou. Mais uma vez meu braço incomoda. Aquele incômodo bom. Devo ter desaprendido dormir. Lembro-me dos trabalhos que deveria ter feito naquela tarde cansada, mas logo me esqueço e continuo assistindo um filme que a televisão teimava em me mostrar, com a boca seca, sintoma da ressaca, continuei deitada. Quando resolvi me levantar, a secura na boca já me incomodava demais e não era um incômodo bom, fui à farmácia. Adoro as grandes redes de farmácias. Vende-se de tudo. Eu mesmo dificilmente vou até elas para comprar algum medicamento. Perfumes, comidas, filmes fotográficos (ainda se usa?), cremes, presentes, cartão de aniversário, e tantas outras coisas e todas aquelas luzes e cores e preços, dificilmente compro somente o que me propus antes de chegar. Mas a satisfação de estar na farmácia logo desaparece. O movimento, o barulho dos carros, as pessoas passando, todos apressados e quanto barulho. A secura na boca volta e aquela sensação incômoda, não a agradável, também. Meio atordoada, com pouco humor, mas ainda com alguma força de vontade de ser simpática com o mundo, vou até o shopping. Mais barulho, mais pessoas e muita comida pesada.

Às 23h20min, ainda com uma terrível secura na boca e com o estômago pesado, penso no sono. E nessa agradável sensação de sentir sono e ainda melhor quando, apesar de todos os afazeres, me permito outra vez escolher o sono. A minha organização já não me atrapalha, mas me encoraja. O horário de dormir é às 10h.

domingo, abril 20, 2008

pedido à lua

Quando que as coisinhas ao nosso redor passam a ter valor?...Sabe aquele momento, um que poderia passar desapercebido e indolor, mas que, no entanto, você o vê e o sente. E ele começa a mexer com você e mexe lá dentro, começa como se fosse uma coceirinha, um "comichão" como diria minha avó, e depois vai crescendo, virando uma leve queimação no estômago e quando você se dá conta, pronto! Virou uma úlcera na alma, que causa dores, que causam aflições, que causam insônia, que gera mais dores, isso vai tomando proporções tão grandes e o ciclo continua e...Bom, é ai que tudo começa. Rolam algumas, ou muitas, lágrimas, você incha, fica com olheiras, come e come mais, seus cabelos caem e aparecem aquelas gordurinhas indesejadas, suas amigas dizem um monte de coisas (as mais puras verdades, mas...você ignora por completo), sua mãe já acha que está doente...E deve estar mesmo, afinal, deve ser uma doença. E isso até me consola, toda doença tem sua cura, não? Não. Algumas são duronas, persistem. Qual será o caso dessa? Nunca ouvi ninguém fala que alguém morreu disso, mas é algo a se considerar; Porque vai que é um tipo de câncer maligno que impregna em todos seus órgãos, não só naquele pulsante e bastardo órgão de músculos vermelhos, que faz correr em mim essa coisa vermelha com gosto enferrujado...Mas deixemos o órgão de lado, o que importa é o que esse doente ou sádio órgão nos ofereçe. A mim, até hoje, ofereceu belos sentimentos, conto-os nos dedos. Porém, e sempre existe um porém, não me alegro do que o bastardo me oferece no momento. Como que algo tão puro...tolice, nada é "tão puro", mas é o que parece-me, pode ser tão ruim. O problema está quando se uni esse bastardinho incompleto com a imaginação. Ah! sonhos é a principal cria dessa união. E eles são bons, movem nossas vidas, nos inspiram a crescer, lutar, conquistar...mas, e sempre existe um mas, as vezes sonha-se errado, mistura sonho com fantasias infantis de mundos cor-de-rosas, ai pronto! Estraga tudo. E mesmo depois de tudo estragado, meus caros, nada muda. Piora. Os olhos se fecham, sua mente bloqueia qualquer sentimento de mudança. Acomoda-se. Acomodar-se é tão fácil, machuca, mais é fácil. Sempre me disseram que acostumar-se com "coisas boas" era fácil. Mentira! O difícil é mais cômodo, penaliza, até conforta...O remédio cadê? Mesmo sem cura há remédios que amenizam. Quero um em altas doses! Nada de golinhos...Acho que ele se chama Mudança, mas é tão difícil de encontrar. Ou quem sabe eu procure um mais comum, o Novidades, por exemplo. E tem o genérico deste também, o Gente Nova, até mais barato!...Grande enganação, o órgão pulsante, junto com a massa cinzenta já um pouco desgastada, são tão burros, surdos e mudos quanto uma porta de madeira barata...Não. Não! Os olhos serão abertos. E o valor das coisinhas, mudará de coisinhas. E enquanto não acho as medicações corretas, ou não tomo meus vencidos comprimidos de Coragem, continuo por ai...andando com as pontinhas dos pés, acreditando e cantarolando. Imaginando um abraço, sem precisar pedir; um estralar de dedos carinhoso; uma mensagem na hora mais inesperada e uma em resposta aquelas tantas que são mandadas; um beijo roubado, outro dado, outro pedido, e outro, o principal, compatilhado, hum...uma viagem sozinhos; um toque nos joelhos; uma cama apertada para dois; um respirar forte; um almoço em família; um desejo compartilhado; um filme debaixo das cobertas; uma conversa sobre banalidades do dia que viram grandes histórias; um sorriso malicioso, outro infantil...um calor para tirar o frio da alma, ela que anda só e triste, e pede a Lua que não apareça tão bela nas suas noites, para não se sufocar com tantos desejos...