segunda-feira, maio 26, 2008

nem exageros, nem extremos

Não gosto de exageros e nem de extremos. Muitos podem me considerar uma pessoa sem personalidade e até fraca. Pois bem, não sou. Pelo menos julgo assim. Não sei por que é tão importante gostar disso e não daquilo, desgostar daquilo e não disso; achar aquela pessoa certa ou aquela outra errada. E esse “achismo” todo é sempre lei. Irrevogável. Posso ouvir samba e gostar de rock. Posso amar livros de ficção e ler livros infantis (são tão coloridos). Posso gostar de carne vermelha, mas escolher uma salada com um frango grelhado. Enfim, posso infinitas coisas, coisas das mais diversas e coisinhas das mais banais. Só não posso achar que extremos são bons. Nem os meios-termos o são. Mas será que não existe um lugar entre os extremos e os meios onde eu possa viver. Apenas viver e descobrir coisas, colorir e descolorir mundos. Um dia, alguém me disse que minhas opiniões poderiam mudar, para eu não julgar tanto. Não foi nenhum gênio que me disse isso e muitas vezes, vejo que até esse alguém julga demasiado. Ninguém pode ser completamente alheio a julgamentos, seria também um exagero, um extremismo. Mas não entendo. E é difícil viver entre dois extremos tentando não ser meio-termo e continuar colorindo e descolorindo meu mundo. Eu tenho pré-conceitos, mais não vivo para eles, às vezes até os esqueço e mudo-os. Por exemplo, não concordo com o roubo, mas acredito que existam roubos honestos, se é que posso chamar assim, quer dizer, posso. Meus poucos roubos são honestos. Acredito em um Deus, um que está em mim e para mim, um que se confundi comigo, porque ele é parte de mim. Não confio nas religiões, mas admiro e não condeno quem dela precise, se ela existe é para ser usufruída. Só desconfio dos homens, daqueles que falam por um Deus. As palavras podem ser traiçoeiras, dizer o que queremos ouvir e ludibriar nossos pensamentos.

Gosto de gostar de coisas diferentes, de pessoas diferentes, mundos diferentes e de cores diferentes. E poder escolher hoje o branco, amanhã o preto e, porque não, querer um dia cinza para nada fazer. Minha mente está cansada de tanto buscar por coisinhas. Se hoje arrisco palavras sem sentidos em pedaços amassados de papéis usados, se leio mergulhando num mar de palavras incompreensíveis e saborosas, se me permito ouvir um chorinho ou Oswaldo Montenegro em minhas viagens diárias, se hoje me encontro e vivo meus eternos momentos em lugares pouco iluminados e “convencionais” e me delicio simplesmente por estar numa rua com o céu em azul tão claro e envolvente, se hoje - não ontem e nem amanhã - posso colorir meu mundo com diversas tonalidades, cheiros e sabores, é porque decidi não pelos extremos e exageros, e sim pela imensa alegria de me encontrar em mundos tão diferentes, podendo saboreá-los, senti-los e vive-los, decidindo pelo meu modo de colorir. Nem tão branco, nem tão negro, mas infinitamente colorido. Às vezes em tão mais claros e infantis, outras vezes em tons fortes, riscados com paixão.

quarta-feira, maio 07, 2008

dores

Com o corpo dolorido e com os pés gelados estou deitada sobre duas cobertas, rodeada de travesseiros e um livro. Mas ainda sobra espaço na minha pequena cama de meu apertado quarto. O sono ainda não chegou. Mas a moleza do corpo sim. Minha mente ainda em um trabalho cíclico, não deixa meu sono chegar.

O livro que ainda está aberto na página da dedicatória me envolve com a esperança que eu decifre suas palavras. A dor em todos meus músculos continua a acelerar meus pensamentos e a movimentar meus dedos, que marcam um pedaço de papel com palavras sem sentido. Meus olhos voltam-se novamente para o livro, mas logo fogem dele. Melhor tê-lo só como apoio para minhas palavras sem sentido. A historia é sempre a mesma.

O sono ainda me chama, mas não é atendido pelos meus pensamentos. E agora o estômago já clama por comida. Não, só amanhã, meus músculos doem e as cobertas estão pesadas demais.

E o livro já lido, que nesta noite serve-me apenas como apoio e não ajuda como de costume, a trazer o sono, eu afasto e as dores dos meus músculos aumentam. Estou pesada.

Como personagem da minha própria vida não me encontro em grandes ou pequenas grandes histórias com finais felizes. Encaixo-me melhor em uma trilogia daquelas que não tem fim. Como personagem principal, não sou nada. Como figurante, observo o que tanto me falta para terminar histórias.

As dores dos músculos de meu corpo teimam em lembrar-me do descanso necessário. Meus pensamentos acelerados, dos compromissos pela manhã. E algo desconhecido que me habita lembra-me que palavras são somente palavras, e que se precisa de silêncio para compreender silêncios, senão esses se tornam delírios. E fim.